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Otto de Alencar Silva, precursor da formação matemática brasileira

Por Gervasio Gurgel Bastos (Universidade Federal do Ceará)


O cearense Otto de Alencar Silva pode ser considerado um legítimo discípulo da obra de Joaquim Gomes da Sousa, por sua contribuição científica e como livre-docente na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, na virada do século 19 para o século 20.

Primeiro “scholar” brasileiro, publicou artigos de Matemática em revistas de prestígio internacional em Portugal (Jornal de Sciencias Mathematicas e Astronomicas – Coimbra) e na França (Bulletin des Sciences Mathématiques – Paris). Também iniciou a formação de matemáticos no Brasil, incentivando colegas e estudantes mais destacados. Entre seus notáveis alunos e seguidores estão Manuel Amoroso Costa, Theodoro Ramos e Lélio Gama – fundador e primeiro diretor do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada).

Nascido em Fortaleza (Ceará), em 3 de agosto de 1874, foi mandado pelos pais para estudar na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, então capital brasileira, após concluir os estudos primários e secundários na cidade natal. Aos 19 anos, graduou-se engenheiro civil. Autodidata, interessou-se pela Matemática, talvez motivado pelos cursos de Física e Astronomia. Seguindo os passos de Joaquim Gomes de Sousa, primeiro grande expoente nacional na área, dedicou-se ao estudo de Análise Matemática, Funções Algébricas e Grupos de Lie.

Na Escola Politécnica, incentivava colegas e alunos talentosos a se dedicar à Matemática pura e aplicada e escreveu trabalhos e lições publicados na Revista da Escola Politécnica.

De 1895 (com 21 anos) a 1902, Otto de Alencar foi livre-docente na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, ministrando aulas sobre Geometria Analítica, Cálculo Diferencial e Integral, Mecânica Racional e Topografia. Em 1907, foi nomeado professor substituto efetivo. Ele morreria em 1912.

Em conferência seis anos após sua morte, o matemático e colega de Politécnica, Manuel Amoroso Costa, principal divulgador da Teoria da Relatividade no Brasil, afirmaria que “como professor, Otto de Alencar teve o dom inestimável de saber despertar a curiosidade dos seus discípulos”. “Seu ensino era admirável, no fundo como na forma, e dele data uma completa renovação dos nossos estudos matemáticos; não têm conta as ideias e os livros que divulgou entre nós”, disse Amoroso Costa.

A visão revolucionária de Otto de Alencar sobre Ciência o fez assumir posições corajosas contra o Positivismo de Auguste Comte, que tinha grande alcance na intelectualidade em seu tempo. Em 1898, publicou o artigo Alguns Erros de Mathematica na Synthese Subjectiva de A. Comte, considerado o marco inicial do processo que culminaria com a ruptura da influência ideológica positivista de A. Comte na nascente comunidade científica brasileira.

Uma amostra da contribuição científica de Otto de Alencar está no livro "Otto de Alencar Silva – uma coletânea de estudos e cartas", de Bastos Silva, Ed. UFC, Fortaleza (2006).

Daí extraímos como exemplos significativos de suas contribuições:
1) Álgebra Superior: Sobre Teoria das Funções Simétricas, Funções Elíticas e Superfícies de Riemann;
2) Geometria Diferencial: Aplicações Geométricas da Equação de Riccati, Questões sobre a Teoria dos Covariantes e das Curvas de Dupla Curvatura;
3) Física Matemática: Ação das Forças de Aceleração sobre a Propagação do Som e Sobre o Emprego da Função d(logG(n)) / dn em um problema de Eletrostática.


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