A pesquisa em Matemática no Brasil é bem mais jovem do que em outras partes do mundo. Grosso modo, pode-se dizer que sua
integração definitiva com a comunidade científica mundial só se deu a partir de meados do século XX. A história do maranhense
Joaquim Gomes de Souza é a de um matemático brasileiro que, apesar do relativo isolamento do país, conseguiu participar da
vida matemática europeia cem anos antes. Nosso texto resume o
artigo do professor Dicezar Lass Fernandez, da Unicamp,
que prepara com colaboradores um livro sobre a vida de Gomes de Souza.
Joaquim Gomes de Souza
Joaquim Gomes de Souza é considerado o primeiro matemático brasileiro, pois foi o primeiro a produzir e publicar matemática no país.
O contexto para sua trajetória é o da fundação das primeiras instituições de ensino superior do Brasil, que datam do período,
a partir de 1808, em que a Família Real Portuguesa residiu no Brasil.
Nascido na província do Maranhão em 1829, Gomes de Souza mudou-se para o Rio de Janeiro em 1843 para ingressar em uma destas
instituições recém-criadas, a Escola Militar da Corte. Fundada em 1810, a Escola seguia os moldes da École Polytechnique de
Paris e oferecia, além de um curso de formação em Matemática, acesso às obras de matemáticos como Euler, Bezout, Laplace, Monge e Legendre.
Gomes de Souza frequentou a Escola Militar por apenas um ano antes trancar sua matrícula para frequentar a também recém-fundada
Faculdade de Medicina. Alguns anos mais tarde, em 1847, ganha da Escola Militar uma permissão para prestar exames correspondentes
aos anos de formação matemática que lhe faltavam. Desta forma, com desempenho brilhante nos exames, obteve em 1848, aos 19 anos,
o grau de bacharel em Ciências Matemáticas. Poucos meses depois, recebeu o grau de doutor, com uma tese baseada na obra de Laplace,
e foi aprovado em concurso para professor da mesma Escola.
Em 1854, sentindo-se preso às limitações dos Brasil, Gomes de Souza viaja para a França e fixa residência em Paris.
Assiste a vários cursos na Sorbonne e estabelece contatos com matemáticos franceses e ingleses. Nos anos de 1855 e 1856, escreve
vários mémoires para a Academia Francesa de Ciências. Estes trabalhos foram encaminhados para análise de um comitê formado por
Liouville, Lamé, Bienaymé e (posteriormente) Cauchy. No entanto, Gomes de Souza retornou ao Brasil em 1857 sem qualquer parecer,
já que esta comissão nunca se reuniu. Foi deputado na Assembleia Geral do Império Brasileiro por alguns anos e, já muito doente,
retornou à Europa em busca de tratamento médico, vindo a falecer em 1863.
A obra parisiense de Gomes de Souza tratou de diversos problemas em Análise Matemática e suas aplicações, apresentando novos métodos
para a solução de equações diferenciais e integrais e aplicações destes métodos a problemas físicos. Embora não publicado na França,
seu trabalho foi rememorado e estendido por uma segunda geração de matemáticos brasileiros, que incluiu Otto de Almeida Silva (1874 - 1912)
quanto seu aluno Manuel Amoroso Costa (1885-1928). Desta forma, a obra de Gomes de Souza, embora de modo geral esquecida e pouco divulgada,
acabou sendo consequente dentro de uma nascente comunidade em seu país.